Para quem deseja estabelecer um negócio em Portugal, conhecer a fundo o código de atividade económica (CAE) é absolutamente vital.
Este sistema de classificação não só influencia o enquadramento fiscal, como também determina diversos aspetos legais e operacionais da sua empresa. Dominar o CAE é, portanto, um passo crucial para o sucesso do seu empreendimento no mercado português.
O que é o CAE e como funciona?
O CAE é um sistema de classificação utilizado em Portugal para categorizar as diversas atividades económicas exercidas pelas empresas e profissionais independentes.
Criado e gerido pelo instituto nacional de estatística (INE), o CAE serve como uma ferramenta de organização estatística que permite ao estado português monitorizar e regular os diferentes setores da economia nacional.
Este sistema segue uma estrutura hierárquica, sendo composto por vários dígitos que representam desde os setores mais amplos até às atividades mais específicas. A versão atualmente em vigor é a CAE-Rev.3, implementada em 2007, que está alinhada com as normas europeias de classificação económica.
Cada atividade económica recebe um código numérico que a identifica dentro do sistema. Por exemplo, o código 47111 refere-se a “comércio a retalho em supermercados e hipermercados”, enquanto o 69102 identifica “atividades dos cartórios notariais”.
A importância do CAE vai muito além de uma formalidade burocrática, influenciando diretamente o enquadramento fiscal, o acesso a incentivos governamentais, as obrigações em termos de segurança no trabalho e até a obtenção de licenciamentos específicos.
Estrutura e organização do CAE
O sistema CAE-Rev.3 está organizado em cinco níveis hierárquicos que permitem classificar as atividades económicas de forma progressivamente mais detalhada. Esta estrutura segue os padrões europeus de classificação e facilita a identificação precisa das atividades.
Níveis hierárquicos do sistema
O sistema começa com categorias amplas identificadas por letras e avança para classificações cada vez mais específicas representadas por números.
Existe a Secção identificada por uma letra maiúscula (A a U), a Divisão representada por dois dígitos, o Grupo composto por três dígitos, a Classe formada por quatro dígitos e a Subclasse constituída por cinco dígitos.
Exemplo de classificação hierárquica
Podemos observar esta estrutura através de um exemplo prático do setor de informática. Temos a Secção J que representa Atividades de informação e comunicação, seguida pela Divisão 62 para Consultoria e programação informática.
Esta divide-se no Grupo 620 para Consultoria e programação informática, na Classe 6201 para Atividades de programação informática e finalmente na Subclasse 62010 para Atividades de programação informática.
Especificidades do sistema português
Em Portugal utiliza-se o sistema de cinco dígitos (subclasse) para efeitos de registo de atividades económicas junto das entidades oficiais.
Este nível adicional de detalhe permite uma classificação mais precisa das atividades no contexto específico da economia nacional, diferenciando-se de outros países europeus que podem utilizar classificações menos detalhadas.
Como escolher o CAE adequado para o seu negócio

A escolha do CAE adequado para a sua empresa é uma decisão estratégica com implicações significativas. Para fazer a melhor escolha, é essencial seguir uma abordagem metódica e considerar diversos fatores.
Metodologia para seleção do CAE correto
- Defina claramente o objeto social da sua empresa
- Identifique a atividade que gerará maior volume de negócios (esta será o CAE principal)
- Liste outras atividades relevantes que pretende desenvolver (estas serão os CAEs secundários)
- Consulte a lista oficial de códigos CAE e identifique as subclasses que melhor correspondem às suas atividades
Considerações para o futuro do negócio
É importante considerar não apenas a situação atual, mas também os planos de desenvolvimento futuro. Embora seja possível adicionar ou alterar códigos CAE posteriormente, iniciar a atividade com os códigos corretos evita complicações administrativas.
Aspetos práticos a considerar
A seleção do CAE deve levar em conta:
- Requisitos específicos de licenciamento associados a cada código
- Regimes fiscais aplicáveis, particularmente em relação ao IVA
- Obrigações em termos de higiene e segurança no trabalho
- Possibilidade de acesso a incentivos específicos para determinados setores
- Implicações para contratos com clientes e fornecedores
CAE para prestação de serviços
A prestação de serviços representa uma parte significativa da economia portuguesa. O CAE para prestação de serviços é organizado principalmente nas secções M, N, O, P, Q, R e S da classificação portuguesa de atividades económicas.
Para os profissionais que pretendem iniciar atividade como prestadores de serviços, é fundamental identificar o CAE que melhor se adequa à sua área de atuação. Esta escolha determina o enquadramento fiscal e define as obrigações legais do negócio.
Uma característica interessante do sistema é a possibilidade de registar múltiplos códigos, sendo um deles designado como principal e os restantes como secundários. Esta flexibilidade é particularmente útil para prestadores de serviços que desenvolvem atividades em áreas complementares.
CAE vs. CIRS, diferenças importantes
Para os trabalhadores independentes em Portugal, compreender a relação e o código CIRS (código do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares) é fundamental para um correto enquadramento fiscal.
Embora ambos sejam utilizados para classificar atividades económicas, estes códigos servem propósitos distintos:
- O CAE é gerido pelo INE e tem como função a classificação estatística das atividades económicas, sendo utilizado para fins administrativos, estatísticos e fiscais de âmbito geral.
- O código CIRS é específico da autoridade tributária, sendo utilizado exclusivamente para efeitos fiscais, particularmente para a classificação dos rendimentos da categoria B no âmbito do IRS.
Na prática, ao iniciar atividade, o profissional deve indicar tanto o CAE quanto o código CIRS correspondente à sua atividade. Embora exista uma correlação entre ambos, não há uma correspondência exata de um para um.
Alterando o CAE, procedimentos essenciais

A alteração do CAE pode tornar-se necessária por diversos motivos: evolução do negócio, diversificação de atividades ou correção de um código inicialmente mal atribuído.
Para empresas constituídas como sociedades comerciais, a alteração implica deliberação em assembleia geral, alteração nos estatutos, registo na conservatória, comunicação à autoridade tributária e atualização junto da segurança social.
Para empresários em nome individual e trabalhadores independentes, o processo é mais simplificado, requerendo apenas declaração de alteração junto da autoridade tributária e comunicação à segurança social, quando aplicável.
É importante notar que a alteração do CAE não é apenas uma formalidade administrativa, mas deve refletir uma mudança real na atividade desenvolvida.
A importância do CAE para o seu negócio
O CAE é muito mais do que uma simples formalidade administrativa – é um elemento estruturante da atividade económica em Portugal. A escolha adequada é determinante para o sucesso e conformidade legal de qualquer negócio, influenciando aspetos críticos como o enquadramento fiscal, as obrigações regulamentares e o acesso a incentivos.
Para empresários e trabalhadores independentes, é essencial dedicar atenção a esta decisão, considerando não apenas a situação atual do negócio, mas também as perspetivas futuras de desenvolvimento.
Em caso de dúvida, é sempre recomendável consultar a documentação oficial disponibilizada pelo INE ou procurar o aconselhamento de profissionais especializados, como contabilistas certificados.
Compreender e utilizar corretamente o sistema não é apenas uma questão de cumprimento legal, mas também uma oportunidade para posicionar estrategicamente o seu negócio no contexto económico português.