O Palácio Nacional de Mafra é precisamente isso: uma obra-prima arquitetónica que une história, arte e cultura num único espaço.
Hoje, vou partilhar consigo todos os detalhes sobre este tesouro nacional que, em 2019, foi reconhecido como Património Mundial da UNESCO.
A história fascinante do Palácio de Mafra
Tudo começou com uma promessa. No início do século XVIII, D. João V e a sua esposa, D. Maria Ana de Áustria, enfrentavam dificuldades para ter um herdeiro.
O rei fez então uma promessa: se fossem abençoados com um filho, mandaria construir um convento franciscano em Mafra. Com o nascimento da princesa D. Maria Bárbara, em 1711, a promessa de construir o que viria a ser o Palácio de Mafra transformou-se num projeto grandioso.
O que inicialmente seria apenas um modesto convento franciscano transformou-se numa obra monumental, graças ao ouro proveniente do Brasil.
A construção do Palácio de Mafra iniciou-se em 17 de novembro de 1717, e o que se seguiu foi um dos maiores projetos arquitetónicos da história portuguesa, empregando milhares de trabalhadores durante décadas.
A arquitetura barroca
O complexo arquitetónico do Palácio Nacional de Mafra representa o auge do barroco português. Com uma fachada principal que se estende por 220 metros, o edifício impressiona pela sua magnitude e detalhes. Os arquitetos italianos e portugueses criaram uma obra que harmoniza perfeitamente o palácio, a basílica e o convento.
Os materiais utilizados na construção vieram de várias partes do reino e do mundo. O mármore rosa veio de Pêro Pinheiro, o mármore preto de Sintra, e várias outras pedras nobres foram importadas do Brasil e da Itália.
As estátuas que adornam o edifício foram esculpidas por artistas italianos renomados, criando um conjunto escultórico único em Portugal.
A basílica
A Basílica do Palácio de Mafra guarda um tesouro musical incomparável: seis órgãos históricos que podem tocar em simultâneo, criando uma experiência sonora única no mundo. Esta característica singular deve-se à visão de D. João V, que desejava que a música sacra fosse executada com grandiosidade sem precedentes.
Os carrilhões do Palácio Nacional de Mafra, compostos por 114 sinos, são outro elemento extraordinário. Divididos entre as duas torres, constituem o maior conjunto de sinos históricos do século XVIII ainda em funcionamento. O som destes sinos pode ser ouvido a vários quilómetros de distância, enchendo a região com a sua melodia histórica.
O convento franciscano
O Convento do Palácio de Mafra foi concebido para albergar 300 frades franciscanos, dispondo de todas as estruturas necessárias para a vida monástica. Os espaços incluem celas, refeitórios, enfermaria e botica, permitindo-nos hoje compreender como era a vida dos religiosos no século XVIII.
A rotina dos frades no Palácio Nacional de Mafra era rigorosa e disciplinada, começando antes do nascer do sol com orações e continuando ao longo do dia com estudos, trabalhos manuais e mais momentos de oração. Esta vida austera contrastava com a opulência do palácio adjacente, criando uma interessante dualidade no mesmo complexo.
A biblioteca real do Palácio de Mafra
A Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra é considerada uma das mais importantes bibliotecas históricas do mundo. Com mais de 40 mil volumes, preserva obras raras dos séculos XV ao XIX.
O mais fascinante é o método natural de conservação dos livros: uma colónia de morcegos que habita o espaço e protege os livros dos insetos que poderiam danificá-los.
Entre as obras mais valiosas do Palácio de Mafra, encontra-se uma primeira edição de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, além de incunábulos raríssimos e manuscritos medievais. A sala da biblioteca, com 88 metros de comprimento, é decorada com pavimentos em mármore rosa e estantes em madeiras exóticas do Brasil.
Curiosidades e lendas que envolvem o monumento
O Palácio Nacional de Mafra inspirou diversas obras literárias, sendo a mais famosa o “Memorial do Convento”, de José Saramago. O escritor português, vencedor do Prémio Nobel da Literatura, retratou magistralmente a construção do monumento e as vidas das pessoas envolvidas nela.
Uma curiosidade menos conhecida sobre o Palácio de Mafra é que durante a construção, trabalhavam diariamente cerca de 45 mil pessoas no local, e foram utilizados mais de 400 bois para transportar as enormes pedras necessárias à obra. O rei chegou a requisitar trabalhadores de todo o país, causando um significativo impacto demográfico em várias regiões.
Como visitar o Palácio Nacional de Mafra
Para aproveitar ao máximo a sua visita ao Palácio de Mafra, recomendo que reserve pelo menos meio-dia para explorar o complexo. O percurso inclui o palácio, a basílica, a biblioteca e partes do convento. A Tapada Nacional de Mafra, antiga zona de caça real, merece uma visita à parte, onde poderá observar diversas espécies de fauna e flora.
O Palácio Nacional de Mafra encontra-se a apenas 40 quilómetros de Lisboa, sendo facilmente acessível de carro ou transportes públicos. Existe um serviço regular de autocarros que parte do Campo Grande, em Lisboa, tornando a viagem bastante conveniente para os visitantes.
O Palácio de Mafra é muito mais do que um simples monumento histórico, é um testemunho vivo da grandeza da arquitetura barroca portuguesa e da história de Portugal. A sua importância cultural, arquitetónica e histórica justifica plenamente o reconhecimento como Património Mundial da UNESCO.
Ao visitar este extraordinário conjunto monumental do Palácio Nacional de Mafra, não está apenas a conhecer um palácio, mas sim a mergulhar numa parte fundamental da história portuguesa. Cada pedra, cada livro e cada sino conta uma história que merece ser descoberta e preservada para as gerações futuras.
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